domingo, 24 de maio de 2009

Vivo num morro


Capturei uma bela imagem, indo trabalhar essa semana:

vivo num morro (Pato Fu)

Vivo, eu vivo num morro
Que quanto mais de longe mais bonito é de se ver
Não há, quem resista ao meu morro
Dentro da luz azul que sai da TV

Morro que é assim
Cheio de não sei o que
De tantas almas em dor
Pra sentir teu cheiro e teu sabor
Morrendo pra sobreviver
Penando pelas quatro dimensões

Pra lá e pra cá, é difícil chegar
Pra cá e pra lá, como vou começar?
E o tempo passa quando quer passar
E o morro sempre no mesmo lugar

Morro, eu vivo num morro
Que quanto mais de perto mais difícil é de se entender
Não há, quem resista ao meu morro
Dentro sa luz azul que sai da TV

domingo, 17 de maio de 2009

Entardecer


"Kitinha, estou entrando no último lustro de minha vida!" Diz, do alto de seus oitenta e tantos anos, o Senhor Nézio Figueiredo à sua irmã. Fala assim, sem peso, sem medo, sem tom de morbidez...
Anuncia como se estivesse dando uma festa. E bem.. talvez esteja...

A frase ficou martelando na minha cabeça, mais do que a sentença em si, mas a entonação com que foi anunciada. Entonação de leveza, e, por que não, felicidade. (não aquela felicidade entusiasta da paixão e alegria, mas aquela serena... que vem pra ficar...)
Pergunto-me o que é necessário pra se chegar ao último lustro da vida com a sensação de completude, plenitude... de uma vida bem vivida.
Nascemos e morremos, diz a Martha Medeiros, e no intervalo entre isso tudo fazemos todo o resto.

Quero a sorte de ter isso, a consciência de uma vida plena. De escolhas erradas, alguns arrependimentos. De ter magoado pessoas, e de saber que só no fim de tudo é que poderemos julgar o que foi certo e o que foi errado. E no fim entender que não existe certo e errado, pra ninguém. O que existem são momentos impróprios, caminhos tortuosos e toda a complexidade de vivenciar esse processo. E também quero a sorte da sequência. Deixar alguma coisa nesse mundo que reflita a minha breve passagem sobre ele. (além de poluição...). Que seja uma família (que não necessariamente tem que ser de entes conseguíneos), um livro, relatos, músicas, meus sentimentos expressos de uma forma ou de outra. Que sejam árvores, educação, polidez. Que jam traumas (inevitavelmente), complexos. Que eu possa mudar um pouco todos que toco, num movimento recíproco, e que dessa forma fique registrado: A Júlia passou por aqui.

Nacemos e morremos, e no intervalo entre tudo isso tentamos conviver com esse turbilhão de sentimentos, bons e ruins que são inerentes a esse processo. com todo o amor e desamor. Tentamos evitar o sofrimento e num extinto animalesco preservar a vida.
Mas é tarde demais.
Tarde demais, nascemos.