segunda-feira, 13 de junho de 2016

Sobre Orlando e o ódio que pode matar a conta-gotas...

O atentado que ocorreu em Orlando foi uma tragédia.

Parece truísmo afirmar, mas as reflexões que li no twitter e facebook acerca do tema deixam margem para que se pense com mais profundidade sobre o ocorrido.

É evidente que o ataque a uma clube LGBTTS tem radicais homofóbicos. Claro como água reluzente. O terrorismo tem diversas motivações e as pessoas parecem ter a necessidade de classificações excusas. O fato de ser terrorismo não isenta o fato de ser homofobia. Poderia ter atacado uma igreja católica (se fosse terrorismo motivado por diferenças religiosas), poderia ter atacado uma loja da Nike (se fosse terrorismo motivado por razões do capital) e assim por diante. Se o cara era ou não ligado ao estado eslâmico, o fato dele ser muçulmano (ou não), o fato dele ser àrabe, etc...

NADA DISSO MODIFICA O FATO DE QUE ESSE ATAQUE ATINGIU A COMUNIDADE LGBTTS.

Quando um grupo sofre um atentado, seus semelhantes sentem-se igualmente atacados (guardadas as devidas proporções), afinal o sentimento de empatia não nos permite separar racionalmente a dor de uma tragédia como esta. Esse post, até agora, é um festival de obviedades, mas faz-se necessário para suscitar a reflexão real:

- Que tipo de pessoa desfaz da dor dos outros nas redes sociais argumentando que "querem se promover com um atentado"?

- Que tipo de pessoa utiliza uma tragédia como esse pra disseminar discursos homofóbicos?

- O que ganham pessoas como Marco Feliciano ao comentarem publicamente sobre o acontecido desfazendo-se da dor genuína da comunidade LGBTTS?

As redes sociais são lócus de discursos de ódio, palavras atiradas com avo certo mas com a certeza de um escudo seguro, afinal não se discursa pessoalmente e tampouco se presencia as reações suscitadas pelas suas palavras. Esse é o tipo de covarde que ataca um grupo fragilizado por uma catástrofe como esta.

Covardes, inescrupulosos e aproveitadores.

Esses discursos matam. Se não matam a tiros, como em Orlando, matam a conta-gotas, uma gotinha de ódio por dia que leva os seres humanos a sentirem cada vez menos empatia uns pelos outros,

Aos seres de bem resta um pensamento: Pouco importam as motivações do ataque de Orlando. A homofobia segue matando diariamente em todos os países do mundo, assim como o terrorismo religioso, o machismo, o racismo... Importa sim, nesse momento de dor, termo empatia e oferecermos à comunidade LGBTTS, na qual me incluo, nossas palavras de alento, afeto e atitudes que promovam a diminuição da intolerância religiosa e a aceitação da homo afetividade em todos os países e em todos os espaços.


*Utilizei a sigla LGBTTS: Me perdoem se já houveram atualizações desta sigla.



quarta-feira, 18 de maio de 2016

Da importância de comer coxinha.


Ao fazer 30 anos decidi me tornar vegetariana. A minha transição foi feita por conta própria, cortei a maioria das carnes praticamente de um dia pro outro, comi peixe por mais um tempo e depois parei completamente.

Ainda vou elaborar um texto maior sobre a transição, mas essa postagem não é sobre isso. Essa postagem é só sobre a coxinha. Eu amava coxinha. Parece bobo, mas todo mundo tem uma comida preferida. Aquela maionese de uma tia, um doce que a avó fazia, o pão de determinada padaria. Eu não sabia até me tornar vegetariana que a minha comida favorita era coxinha. Pois, desde a transição eu olhava coxinha, sentia cheiro de coxinha, sonhava com coxinha. COXINHA!



E, em virtude da minha nova escolha de vida, não comia coxinha a um certo tempo. Pesquisei muito sobre receitas na internet, muitas variedades de coxinha vegetariana e vegana, a mais famosa sendo a de carne da jaca (muito comum no sudeste e centro oeste). 

Mas era um plano remoto: achar jaca no ponto/ fazer carne de jaca/ aprender a fazer massa de coxinha/ fritar/ comer.


Sendo assim, seguia eu um pouco resignada do meu desejo de comer coxinha. Até que hoje na hora do almoço, o meu companheiro chegou com uma proposta. Vamos comer coxinha? Fiquei meio sem entender "se isso é uma piada, não tem a mínima graça" - pensei. Quando veio a resposta: Me falaram de um lugar que tem coxinha vegetariana. 

Marcado o encontro, fomos com mais um casal de amigos provar as coxinhas. 
O Maria Coxinha é um lugar especial. Um espaço criativo localizado no centro histórico de São José, com essa atmosfera de praça, mesinhas na rua e um espacinho aconchegante dentro. As coxinhas de sabores variados, tendo sido destaque entre os meus amigos carnistas a de linguiça Blumenau. Eu provei os quatro sabores (3 veganos e 1 vegetariano) e todos foram aprovados, mas a preferida foi a vegana de feijão com couve. 

O lugar está aberto a nove dias e estava super movimentado. A dona veio perguntar sobre o serviço e pra minha surpresa o depoimento:

"A idéia do restaurante veio porque eu sou vegetariana. Passei quase oito anos sem comer coxinha!"


Então amigos, quero recomendar que conheçam o Maria Coxinha, um restaurante para todos os gostos, com o cuidado de ter no cardápio alimentos vegetarianos e veganos (e também sem glutén, inclusive feitos em figideira separada pra evitar os traços de glutén pros alérgicos). Entre as bebidas se encontram as linhas mais famosas da Opa e da Eisenbahn, assim como Sol, Bud, Heineken e Skol Beats, Caipirinhas, vinhos e refrigerantes diversos. Tem também coxinhas doces!!! (Segue link no final do texto)

E no mais, torço para que a cada dia nós vegetarianos tenhamos mais e mais opções e que possamos continuar comendo nossos pratos preferidos, pratos cheios de amor e respeito à vida, saborosos e acessíveis. 

https://www.facebook.com/mariacoxinhabar/?fref=ts

domingo, 15 de maio de 2016

Música para educação musical: existe diferença entre o "bom" e o "ruim"?

Um tema presente na educação musical infantil é a discussão sobre quais músicas são boas e ruins para crianças. Existe muita opinião sobre isso e muitas vezes os educadores se pegam em verdadeiras saias justas com a comunidade escolar devido à escolhas estranhas de repertório em apresentações para a família ou em trabalhos pedagógicos diversos.

Uma coisa é certa. Os adjetivos "bom" e "ruim" são muito vagos e subjetivos mas se engana quem pensa que a expressão "música de qualidade" também não o é.

Para decidirmos se uma música é "boa" ou não no contexto escolar precisamos primeiramente definir qual o objetivo de se utilizar aquela canção. Nesse sentido, música boa será aquela que cumpre os requisitos necessários para se alcançar um objetivo. Por exemplo, a música "Baile de Favela" tem uma letra extremamente inapropriada para ser utilizada com crianças pequenas. Porém o ritmo de fácil compreensão e com tamanho sucesso entre os gostos populares pode ser utilizado para paródias, ou para trabalhar aspectos da cultura popular com adolescentes. Nenhuma música é completamente boa ou completamente ruim. Música é também contexto. Esse revestimento estético é o que precisamos analisar na hora de escolher o repertório.

O Educador musical tem uma função muito importante que é a de contribuir para a formação do gosto musical de seus alunos. Muitos aspectos da música são apreciados intuitivamente pela maioria da população, mas certos aspectos estruturais, (dinâmica, dissonâncias, fermatas, movimentos mais "elaborados") são um gosto adquirido pelo conhecimento. E o envólucro comercial acaba predominando no gosto infantil. Assim como um chiclete de morango vende mais que uma maçã, para a criança as músicas da "Violetta" são mais atrativas que "Beethoven" Entretanto, a infância tende a ser mais aberta ao novo do que a fase adulta, e é nessa fase da vida que precisamos mostrar todos os tipos de timbragem, movimentos e estilos musicais.

Agora se pararmos para analisar as diferenças entre a "Violetta", ou a temerosa "Galinha Pintadinha" e os artistas considerados "bons" para a criança, veremos que as diferenças são mais estéticas do que estruturais. A maioria das canções, sejam elas do Carrossel ou do Arnaldo Antunes (ou do Paulo Taiti, ou do Pato Fu, ou da Adriana Partimpim) tem uma estrutura semelhante: Riff com acordes maiores, refrão, pontezinha com menor ou com sétima, volta pro refrão, fim.  O que muda aí é o envólucro estético. A Violetta ou o Carrossel, utiliza timbres pré prontos, sem personalidade ou estilo próprio, voz de criança autotunada e até a aparência dos intérpretes voltada para o padrão de beleza vigente. Já os artistas como "Palavra Cantada" utilizam timbragem super diversificadas, ritmos que passam do baião, ao samba, ao pop rock e um visual que estimula a criança a gostar do que é diferente.

É aí que entra o educador musical! Nosso papel é escolher músicas com uma maior diversidade de estilos possível, sem forçar. Ensinar que precisam respeitar a diferença, mesmo que não gostem, e que possam sempre se dar a chance de conhecer coisas novas. E o Beethoven pode aparecer naturalmente, ou a gente pode dar um empurrãozinho pra que as crianças comecem a gostar mais e mais não só dele como de diversos estilos e respeitando as diferenças entre todos. 



Segue no link três vídeos que alguns projetos que costumo utilizar nas minhas aulas:

1- Ode to Joy - Muppets

O Vídeo do "mimimi" é uma maneira bem humorada de introduzir canções eruditas. O vídeo e curtinho, engraçado e as crianças amam. E num momento quando a turma estiver mais madura colocamos uma orquestra e mostramos outros aspectos da canção. (Eu costumo passar para crianças a partir dos dois anos, e a partir dos 6 já começo a mostrar trechos da orquestra, eles adoram).

2- Música de Brinquedo - Pato Fu

Esse projeto é revisita clássicos da música brasileira com timbres extremamente diferentes, a proposta é utilizar instrumentos "de brinquedo" para executar as canções. Bonecos do Giramundo fazem intervenções e toda a estética é muito baseada na diversidade.

3- Adriana Partimpim.

Tanto os vídeoclipes, quanto o show ao vivo são incríveis. Esse projeto traz composições originais e modernas voltadas ao universo infantil.

E no mais, que se mescle a música popular com a música erudita e que tenhamos espaço nas escolas para o funk, o baião, o samba, a bossa, o rock o reggae, o rap e tudo mais que a diversidade nos permitir.

LINKS:

https://www.youtube.com/watch?v=jU4txiRB0O0

https://www.youtube.com/watch?v=JcVTu-axstk

https://www.youtube.com/watch?v=jU4txiRB0O0



quinta-feira, 12 de maio de 2016

Sofremos um golpe? Calma, não rasgue seu título.


Acordei otimista.

Na timeline do facebook alguns direitistas moderados (os poucos que ainda restam em meu grupo de relações na web) postam uma ou outra frase de ironia. Mas o sentimento geral é vergonha.

Uma vergonha de tudo, como dizem, desse governo que não dá pra defender e dessa oposição que não da pra aceitar.

Nesse movimento de demonstrar sua vergonha, muitos compartilham a  foto do título de eleitor rasgado. Fico pensando que esse reducionismo é perigoso, senão vejamos:

Sofremos um golpe? Em parte sim. Não um golpe contra a democracia. Não um golpe pela volta da ditadura. Um golpe político, exclusivamente. Perdemos um cabo de guerra por disputa de poder e nem mesmo para a mudança e sim para a manutenção de um pacto que o PT assinou com o PMDB há anos. O que acontece é que Dilma é incisiva, é radical demais, firme demais. E o PMDB estava perdendo espaço...  Esse golpe, companheiros, é aquele karma que se sofre quando se assina pacto com o diabo. Demora, mas vem.  

As principais mudanças são simbólicas, daqueles símbolos que importam e muito. O que cai hoje é a representatividade das minorias (vide o primeiro ministério sem mulheres anunciado hoje pelo Interino Temer). Caí a continuidade dos programas sociais, caí o "poder" aquisitivo da classe média (sim essa que estava batendo panela...). Mas a estrutura democrática continuará. Ela é muito importante para a manutenção desse sistema. Inclusive, a sonhada reforma política, foi-se para o espaço de vez. E assim como caiu Dilma, cairão todos os presidentes (ou presidentas) que tentarem continuar com ela.

Mas importa lembrarmos que o título de eleitor não é só para votar em Presidentes. Precisamos sim, como eleitores, atentar para essa bancada absurda de deputados e senadores. (Esses que a gente viu derrubarem a presidenta). A quem essa gente representa? Quem vota neles? Eu, particularmente, nunca elegi um deputado. Aqueles em que votei raramente chegam ao número de votos e, quando chegam, o partido não tem legenda. (A famosa reforma política faz falta nesses momentos).

Precisamos ficar mais atentos em que deputados e senadores estão chegando lá. Precisamos cobrar, ser ativos. É difícil, porque estamos sempre trabalhando, mas esse é um caminho bom pra termos em mente. Atenção aos deputados e senadores. Não rasgue seu título!

Outro fato que temos que lembrar. Esse ano temos eleições para prefeitura. É muito importante que exerçamos esse direito com unhas e dentes, afinal, essas são as instâncias mais próximas de nós. Nessa instância, do município, conseguimos vivenciar mais de perto o exercício da política cotidiana. NÃO RASGUE SEU TÍTULO! Vote, pesquise, faça a diferença.

A democracia vai continuar por muito tempo e esse "golpe" que levamos hoje é só mais um que vai entrar pros anais do aprendizado.

A gente cai, levanta e continua com mais sabedoria nas próximas eleições.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Em busca de esperança




Sentada na minha mesa de trabalho contemplo o que está ao meu redor.

Documentos escolares, em época de digitação de notas. O computador piscando algumas tabelas onde pacientemente verifico cada criança e vou atribuindo os números que indicam o quanto conseguiram vivenciar as propostas que lhes fiz durante nosso primeiro trimestre. Um sistema não muito efetivo de avaliação, mas, é o que temos, vamos seguindo o bonde. Olho as fotos no mural, vejo sorrisos inocentes. Erguendo tambores, pintando caixas de papelão, soprando flautas. Em meus 4 anos de graduação em Geografia, nunca imaginei que iria ser professora de musicalização...


Continuo olhando minha mesa e vejo as agendas, calendários os milhares de compromissos escolares já marcados, vejo umas besteiras no facebook, meu chá esfriando ao lado do notebook. Eu sou muito feliz com meu trabalho, mas hoje, não.



Hoje não sou feliz com nada.



Não sou feliz com o meu conhecimento de Geografia Econômica, de História do Brasil, de Ciência Política e de Ciclos Econômicos. Hoje o processo de Impeachment foi aceito pelo nosso Senado e quando a notícia aparece ela acaba com as esperanças.

Agora me digam se pode existir um professor sem esperança.

A esperança em um futuro melhor é o que nos move, aos professores, diariamente. Ganhamos menos do que merecemos, levamos uma vida com dinheiro contado (isso como classe, uma classe com pouquíssimas exceções). Realizamos muito mais que os 12 trabalhos de Hércules todos os dias e busca de estimular o conhecimento às nossas crianças. Elas são o futuro, dizem. Contudo, em momentos como esse, penso, que futuro terão?

Como dizer para um aluno que ele pode esperar um mundo melhor quando as conquistas de uma geração advindas desses últimos 12 anos estão caindo uma a uma com a investida golpista dos partidos de direita?


Eu sei que esse movimento não é exclusivo do Brasil. Durante o último século os movimentos populares e governos de esquerda não resistem mais que 20 anos no poder, o ciclo vai e vem, a direita se renova e retoma seu espaço, etc. Meu cérebro diz, os livros dizem, os gráficos dizem, mas por alguma razão eu tinha esperanças de que, talvez, dessa vez fosse ser diferente.

Não quero entrar no mérito jurídico aqui. A nossa constituição é exaustivamente complexa e há brechas na lei que apoiam os dois lados desse processo de impeachment. Defesa e Acusação agem “dentro” da lei. O golpe é claro. A acusação que age “dentro” da lei, só a aplica à Presidenta Dilma, enquanto os outros governantes que cometeram o mesmo “crime” seguem em paz o curso de seus governos. Justiça seletiva, mídia seletiva, população ignorante.


E com que cara eu vou ter esperança pra dar aula amanhã? Eu sou conhecida por ser extremamente otimista. Eu (quase) sempre consigo ver o lado bom.



Mas hoje falhei.



Hoje eu vou dormir apreensiva. Tentando entender o momento e buscando alguma finte de esperança. Amanhã vai ser outro dia (já dizia Chico). Apesar de vocês, apesar de tudo.