domingo, 8 de março de 2009

Densidão esmagadora


Esmagada pela atmosfera. Uma atmosfera, não de solidão, mas de estar sozinha. As possibilidades contidas nessa atmosfera são esmagadoras e entediam e dão uma preguiça de viver. Posso fazer o que eu quiser, vestir o que eu quiser, tomar banho se quiser... Ninguém está aqui e nem vai estar. O próximo compromisso é só amanhã. Até amanhã todas as possibilidades de minha vontade - dentro do espaço quadrado de minha casa ou proximidades - são válidos.
A primeira tentativa é fugir. Criar compromissos inexistentes, contatar amigos, dormir fora de casa. Mas aos poucos a atmosfera do Estar-só se faz tão densa de forma que não há como escapar. Confronto meus pensamentos, vontades e afazeres pendentes de uma forma que até ofende. Não se deve jogar na própria cara sua personalidade. Os verdadeiros desejos de uma pessoa não devem ser revelados a ela mesma desta forma tão despudorada. É ultrajante, doloroso e desnecessário. Pra que serve afinal esse aparato multimídia e a urgência do capitalismo senão pra criar necessidades desnecessárias, mas que camuflam suas necessidades reais?
A atmosfera aumenta sua densidade (o termo mais exato seria densidão, densidade é muito físico, não combina com a atmosfera do Estar-só). O peso dela chega a doer nos ombros e arder os olhos. Entope os ouvidos. O fato de estar chovendo apenas reforça as sensações. A atmosfera parece ter provocado a chuva e agora se regozija com a sua presença, de renovação e energia lá fora; aqui fora, enquanto me obriga a ficar abafada dentro do quadrado, onde ela habita comigo nesse momento. Um requinte de crueldade, sem dúvida. E eu que amo a chuva me vejo desejando que ela cesse.
Aos poucos, vou reprogramando os compromissos que marquei comigo mesmo. Provavelmente vou me dar o cano. Dormir é a única maneira de escapar da atmosfera. Acaba-se com a consciência de que a atmosfera está aqui. E quando acordar, ela terá ido embora com a chuva e o final de semana.

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