domingo, 15 de maio de 2016

Música para educação musical: existe diferença entre o "bom" e o "ruim"?

Um tema presente na educação musical infantil é a discussão sobre quais músicas são boas e ruins para crianças. Existe muita opinião sobre isso e muitas vezes os educadores se pegam em verdadeiras saias justas com a comunidade escolar devido à escolhas estranhas de repertório em apresentações para a família ou em trabalhos pedagógicos diversos.

Uma coisa é certa. Os adjetivos "bom" e "ruim" são muito vagos e subjetivos mas se engana quem pensa que a expressão "música de qualidade" também não o é.

Para decidirmos se uma música é "boa" ou não no contexto escolar precisamos primeiramente definir qual o objetivo de se utilizar aquela canção. Nesse sentido, música boa será aquela que cumpre os requisitos necessários para se alcançar um objetivo. Por exemplo, a música "Baile de Favela" tem uma letra extremamente inapropriada para ser utilizada com crianças pequenas. Porém o ritmo de fácil compreensão e com tamanho sucesso entre os gostos populares pode ser utilizado para paródias, ou para trabalhar aspectos da cultura popular com adolescentes. Nenhuma música é completamente boa ou completamente ruim. Música é também contexto. Esse revestimento estético é o que precisamos analisar na hora de escolher o repertório.

O Educador musical tem uma função muito importante que é a de contribuir para a formação do gosto musical de seus alunos. Muitos aspectos da música são apreciados intuitivamente pela maioria da população, mas certos aspectos estruturais, (dinâmica, dissonâncias, fermatas, movimentos mais "elaborados") são um gosto adquirido pelo conhecimento. E o envólucro comercial acaba predominando no gosto infantil. Assim como um chiclete de morango vende mais que uma maçã, para a criança as músicas da "Violetta" são mais atrativas que "Beethoven" Entretanto, a infância tende a ser mais aberta ao novo do que a fase adulta, e é nessa fase da vida que precisamos mostrar todos os tipos de timbragem, movimentos e estilos musicais.

Agora se pararmos para analisar as diferenças entre a "Violetta", ou a temerosa "Galinha Pintadinha" e os artistas considerados "bons" para a criança, veremos que as diferenças são mais estéticas do que estruturais. A maioria das canções, sejam elas do Carrossel ou do Arnaldo Antunes (ou do Paulo Taiti, ou do Pato Fu, ou da Adriana Partimpim) tem uma estrutura semelhante: Riff com acordes maiores, refrão, pontezinha com menor ou com sétima, volta pro refrão, fim.  O que muda aí é o envólucro estético. A Violetta ou o Carrossel, utiliza timbres pré prontos, sem personalidade ou estilo próprio, voz de criança autotunada e até a aparência dos intérpretes voltada para o padrão de beleza vigente. Já os artistas como "Palavra Cantada" utilizam timbragem super diversificadas, ritmos que passam do baião, ao samba, ao pop rock e um visual que estimula a criança a gostar do que é diferente.

É aí que entra o educador musical! Nosso papel é escolher músicas com uma maior diversidade de estilos possível, sem forçar. Ensinar que precisam respeitar a diferença, mesmo que não gostem, e que possam sempre se dar a chance de conhecer coisas novas. E o Beethoven pode aparecer naturalmente, ou a gente pode dar um empurrãozinho pra que as crianças comecem a gostar mais e mais não só dele como de diversos estilos e respeitando as diferenças entre todos. 



Segue no link três vídeos que alguns projetos que costumo utilizar nas minhas aulas:

1- Ode to Joy - Muppets

O Vídeo do "mimimi" é uma maneira bem humorada de introduzir canções eruditas. O vídeo e curtinho, engraçado e as crianças amam. E num momento quando a turma estiver mais madura colocamos uma orquestra e mostramos outros aspectos da canção. (Eu costumo passar para crianças a partir dos dois anos, e a partir dos 6 já começo a mostrar trechos da orquestra, eles adoram).

2- Música de Brinquedo - Pato Fu

Esse projeto é revisita clássicos da música brasileira com timbres extremamente diferentes, a proposta é utilizar instrumentos "de brinquedo" para executar as canções. Bonecos do Giramundo fazem intervenções e toda a estética é muito baseada na diversidade.

3- Adriana Partimpim.

Tanto os vídeoclipes, quanto o show ao vivo são incríveis. Esse projeto traz composições originais e modernas voltadas ao universo infantil.

E no mais, que se mescle a música popular com a música erudita e que tenhamos espaço nas escolas para o funk, o baião, o samba, a bossa, o rock o reggae, o rap e tudo mais que a diversidade nos permitir.

LINKS:

https://www.youtube.com/watch?v=jU4txiRB0O0

https://www.youtube.com/watch?v=JcVTu-axstk

https://www.youtube.com/watch?v=jU4txiRB0O0



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