quarta-feira, 11 de maio de 2016

Em busca de esperança




Sentada na minha mesa de trabalho contemplo o que está ao meu redor.

Documentos escolares, em época de digitação de notas. O computador piscando algumas tabelas onde pacientemente verifico cada criança e vou atribuindo os números que indicam o quanto conseguiram vivenciar as propostas que lhes fiz durante nosso primeiro trimestre. Um sistema não muito efetivo de avaliação, mas, é o que temos, vamos seguindo o bonde. Olho as fotos no mural, vejo sorrisos inocentes. Erguendo tambores, pintando caixas de papelão, soprando flautas. Em meus 4 anos de graduação em Geografia, nunca imaginei que iria ser professora de musicalização...


Continuo olhando minha mesa e vejo as agendas, calendários os milhares de compromissos escolares já marcados, vejo umas besteiras no facebook, meu chá esfriando ao lado do notebook. Eu sou muito feliz com meu trabalho, mas hoje, não.



Hoje não sou feliz com nada.



Não sou feliz com o meu conhecimento de Geografia Econômica, de História do Brasil, de Ciência Política e de Ciclos Econômicos. Hoje o processo de Impeachment foi aceito pelo nosso Senado e quando a notícia aparece ela acaba com as esperanças.

Agora me digam se pode existir um professor sem esperança.

A esperança em um futuro melhor é o que nos move, aos professores, diariamente. Ganhamos menos do que merecemos, levamos uma vida com dinheiro contado (isso como classe, uma classe com pouquíssimas exceções). Realizamos muito mais que os 12 trabalhos de Hércules todos os dias e busca de estimular o conhecimento às nossas crianças. Elas são o futuro, dizem. Contudo, em momentos como esse, penso, que futuro terão?

Como dizer para um aluno que ele pode esperar um mundo melhor quando as conquistas de uma geração advindas desses últimos 12 anos estão caindo uma a uma com a investida golpista dos partidos de direita?


Eu sei que esse movimento não é exclusivo do Brasil. Durante o último século os movimentos populares e governos de esquerda não resistem mais que 20 anos no poder, o ciclo vai e vem, a direita se renova e retoma seu espaço, etc. Meu cérebro diz, os livros dizem, os gráficos dizem, mas por alguma razão eu tinha esperanças de que, talvez, dessa vez fosse ser diferente.

Não quero entrar no mérito jurídico aqui. A nossa constituição é exaustivamente complexa e há brechas na lei que apoiam os dois lados desse processo de impeachment. Defesa e Acusação agem “dentro” da lei. O golpe é claro. A acusação que age “dentro” da lei, só a aplica à Presidenta Dilma, enquanto os outros governantes que cometeram o mesmo “crime” seguem em paz o curso de seus governos. Justiça seletiva, mídia seletiva, população ignorante.


E com que cara eu vou ter esperança pra dar aula amanhã? Eu sou conhecida por ser extremamente otimista. Eu (quase) sempre consigo ver o lado bom.



Mas hoje falhei.



Hoje eu vou dormir apreensiva. Tentando entender o momento e buscando alguma finte de esperança. Amanhã vai ser outro dia (já dizia Chico). Apesar de vocês, apesar de tudo.

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